Nome de um ritual destinado a abrir a boca do defunto e das suas estátuas e assim dar-lhe posse das suas faculdades. O ritual servia nao apenas para conferir à boca a capacidade de falar e comer de novo, mas também para que os olhos, ouvidos e o nariz voltassem a cumprir as suas funçoes. O ritual da Abertura da Boca era inicialmente feito para as estátuas mas depois foi também usado nas múmias, podendo ainda ser feito para as estatuetas funerárias e até para templos inteiros. O ritual era bastante antigo. Numerosos achados do período de Nagada I, entre os quais um objecto usado no ritual, o chamado 'pesechkef, 'com a forma de uma cauda de peixe numa das pontas, permitem concluir que um ritual semelhante era já entao realizado na Época Pré-dinástica. Os 'Textos das Pirâmides', do Império Antigo, registam um ritual que é virtualmente idêntico ao que seria levado a efeito tempos depois. Sabe-se que o ritual era regulatmente efectuado no Império Antigo para as estátuas do rei no templo do vale pertencente ao complexo piramidal. As nossas melhores fontes de informaçao acerca do ritual vêm da sua evocaçao nos túmulos e papiros do Império Novo e de tempos posteriores. Existe um bom exemplo no túmulo de Rekhmiré em Tebas ilustrando todos os 75 actos diferentes que compunham o ritual. A maior parte desses actos consistia em purificar e incensar, registando-se também libaçoes e sacrifício de animais. Tocar em várias partes do corpo era igualmente um acto importante no ritual, o qual, em teoria, era levado a efeito pelo filho mais velho do defunto. O ritual podia ser efectuado na oficina do escultor, no local do embalsamamento e ainda dentro ou nas proximidades do túmulo.